sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Oficina Literária - Criação Literária


Na mitologia Hindu, Brahman é a realidade suprema, aquela que está por traz de todas as realidades que são apenas aspectos desta.

Brahman se divide em infinidades de aspectos que se relacionam entre si e criam novos aspectos do todo. Milhares de divindades ocupam o panteão Hindu, cada uma regendo um aspecto da vida e até atividades individuais de cada pessoa. Tudo é Brahman e, portanto, não há distinção ultima entre o que é o adorador, a oferenda e o Deus, apenas interpretações que se dão aos aspectos do absoluto.

Nesse contexto, a arte é a expressão maior dessa visão do Deus sobre o Deus.

O Artista é o Deus Criador menor que lança o seu olhar sobre o Absoluto e extrai dali a sua visão, a sua obra.

Para que seja capaz de fazer isso, é necessário que o artista possa compreender o que vê e traduzir, na sua obra, a visão e então poder compartilhá-la com outros.

A esse processo de olhar para o Absoluto e traduzi-lo em algo sintetizado, no que chamamos de Obra, que auxiliará outros aspectos do mesmo Absoluto a olhar para si mesmos e para o todo, podemos dar o nome de comunicação.

Existem vários formatos que a comunicação, vista dessa forma, pode assumir. Em cada formato, novas técnicas e formatos podem ser utilizados e desenvolvidos de foram a criar mecanismos que facilitem o contato entre o participante da Obra e Brahman.

Nessas miríades de relações e formatos que o ato de criar e transmitir a visão assume, pode-se perceber que ate mesmo o ato de comunicação é um ato de criação.

Nesta conversa informal que passaremos a ter, serão apresentados alguns dos inúmeros formatos e técnicas de criação literária, de forma que seja acessível a todos, e que servirá de treinamento de como se pode e deve flexibilizar uma idéia de forma que se faça contato entre os extremos sem que se perca o sentido original, concedendo abrangência à ela (idéia) para que cumpra o seu papel de unir, pelos laços da comunicação, aspectos diferenciados do Todo, que somos nós.


Estrutura Contextual


Todo texto precisa ter uma coerência lógica para que possa levar o sentido da mensagem ao seu destino, o leitor.

A essa coerência lógica, dá-se o nome de Estrutura Contextual Elementar, que é tão mínima e flexível que quase não se percebe, mas é de fundamental importância para que o texto funcione como um mensageiro de idéias.

Para se ter uma idéia de como essa estrutura é flexível podemos dizer que, todo texto precisa ter um começo, um meio e um fim para ser coerente. Porém, o que chamamos de começo, pode ser uma ambientação (a localização espaço/tempo/cultural que também serve de cenário para o texto) que muitas vezes nem aparece explícita no texto apresentado, sendo implícita no conteúdo ou na referência da obra como um todo, ou ainda sendo inferida durante o desenvolvimento da idéia.

O fim, por outro lado, pode estar apenas na mente do leitor e assumir diferentes formatos de acordo com a interpretação deste ou do seu momento psicológico. Nesses casos o texto tem que indicar o final, sem antecipá-lo.

Um texto pode, por exemplo, iniciar pelo “fim” mas este só será atingido realmente com a compreensão do leitor de tudo o que ocasionou aquele momento, sendo, portanto, a compreensão do leitor o verdadeiro “final” do mesmo.

Outra parte importante da Estrutura Contextual é o formato adotado. Para cada tipo de idéia ou finalidade desejada, é exigido um formato que pode ser mais ou menos rígido, com regras pré estabelecidas mais condicionantes ou mais flexíveis que direcionem.

Um post de Internet tem um formato necessariamente diferente de uma tese de doutorado ou de uma redação para um concurso de vaga para emprego.

Um conto é diferente de um romance, que é diferente de um diário, ou de uma reportagem, cada qual tem seu modelo próprio para que atenda ao seu objetivo e ao tipo de público que se destina. Respeitar esses formatos é uma das regras básicas para que haja uma boa estrutura contextual.

Dentro dessa questão de contextualização, também é importante ressaltar a harmonia da leitura. Como todos sabem, existe um “leitor” dentro de nossas cabeças que “fala” o que é lido como se estivesse contando a história para nossa memória. Quando esse leitor interno esbarra em algo que lhe desvie o fluxo de entendimento, gera uma perda de registro. Duas coisas podem provocar rapidamente essa distração.

Palavras não usuais para o tipo de público a ser atingido e, mais terrível ainda, Cacofonia.

A Cacofonia é um tipo de ruído produzido pela leitura de espécies de “Trava Línguas” que submetem o nosso leitor mental a um esforço maior de concentração, travando o desenvolvimento da leitura. É como um instrumento desafinado em uma sinfônica.

O efeito produzido se assemelha ao que se teria se pudéssemos deslizar as palavras pelos dentes de uma serra esbarrando nos picos dentados. Por exemplo:

“O que é que ela queria dizer com aquilo?”

A seqüência fonética dá a impressão de uma gagueira mental repetindo partículas de palavras que se sobrepõem a toda a frase, tirando a concentração do texto e focalizando-a em apenas uma parte, interrompendo o fluxo natural das idéias. Deve-se evitar isso substituindo-se os termos por outros equivalentes. Redundância das mesmas palavras durante seqüências mínimas de texto podem produzir o mesmo problema:

Ele sempre dava uma olhada pela janela

Ele sempre dava a si mesmo uma esperança

Ele sempre dava um olhar mais intenso nas madrugadas

Ele sempre dava a si uma desculpa para fazer aquilo.

Portanto temos, como regras elementares da Contextualização, o desenvolvimento dos eventos dentro de uma cronologia de raciocínio e interpretação, o formato previamente definido para o texto e publico a que se destina e a harmonia do fluxo de leitura.

Observando esses cuidados básicos o texto ficará mais direcionado e a comunicação entre o criador, a obra e o leitor se fará de forma mais prazerosa e perfeita.

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