sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Oficina Literária - Escrevi! Só não sei o que é...




As paredes que protegem são as mesmas que aprisionam
(Danny Marks)

Como definir o que é um texto acadêmico de um texto artístico ou de um informal?
Todos usam, basicamente, os mesmos princípios e buscam o mesmo fim. O objetivo é usar símbolos para transmitir idéias coerentes.
Símbolos e modelos são as “paredes” de um texto. Como toda parede, ela protege ao mesmo tempo que limita e condiciona.
Todas as coisas precisam de limites para serem estáveis, bem como de flexibilidade para crescerem.
O corpo humano tem a parede externa que é a pele, e tem uma estrutura interna que ajuda a sustentação, o esqueleto.
Quando se pensa em um texto essa analogia é a que melhor atende. Imagine, então, o texto como sendo um corpo humano.
A idéia original é o esqueleto que dará a sustentação e coerência ao conjunto, as regras gramaticais e de formatação serão a pele que condicionam as palavras em um formato que pretende ser flexível, sem perder a coerência da idéia.
O estilo pessoal é como a roupa que esse corpo irá vestir, pode ser usada para realçar ou suavizar imperfeições e qualidades.
Considere agora que esse corpo possui uma idade característica. Essa idade representa o tipo de público a que se destina, o nicho social em que esse corpo deve ser inserido para que haja a receptividade a ele e cumpra a missão a que se destina.
Agora transporte essa imagem mental para os diversos formatos e sub formatos que um texto pode (e deve) assumir.
Um micro conto seria, na nossa analogia, um bebê. Com pouquíssimas palavras e nenhuma ambientação visível, ele deve transmitir idéias arquetípicas.
Já um Hai Kai, seria um sábio de pouca estatura vestindo uma poderosa armadura.
Um conto é, então, uma criança, imediato, direto, compacto sem ser complexo, autônomo em si mesmo mas com laços que se estendam e se completem com outras crianças e/ou adultos.
Uma noveleta já seria um pré adolescente com suas inconstâncias. Ora criança ora adulto imaturo, extenso e reprimido, seguro de si e impulsivo, uma verdadeira senóide.
Já a novela é o adolescente em sua fase pré adulta. Tem ares de que sabe tudo, que pode tudo, mas precisa de apoio para se sustentar ou sofre sérios problemas existenciais.
O Romance já é o adulto, auto suficiente. Pode ser gregário ou solitário. Tem o porte intermediário entre o formalismo da estrutura que agrega e o informalismo da aventura que constrói novos horizontes.
Já o texto Acadêmico é o idoso. Sua sabedoria segue o tradicionalismo que se fixa no que já está consagrado. Por isso mesmo é resistente a mudanças mas é sólido como sustentáculo. Tem a confiabilidade da erudição que serve de apoio a todas as fases anteriores, direcionando o crescimento.

Entre estas idades podemos colocar as fases existencialistas, que seriam modelos diferenciados, intermediários ou até união de modelos criando um novo formato.
A reportagem, por exemplo, situaria-se entre o jovem e o adulto, sua linguagem reduzida e direta, factual. Não tem tempo a perder.
Quanto mais tende para o jovem de nossa analogia, mais opinativa se torna, quanto mais próxima do adulto mais objetiva.
O diário fica entre a criança e o pré adolescente, o importante é o registro do que chama a atenção imediata, é modista, imediatista, sectário e seccionado.
A crônica já fica na faixa entre o adulto e o idoso, tem uma linguagem que mistura o estilo de reportagem opinativa com a erudição saudosista.
Nessa faixa também podemos encontrar o Artigo, a Resenha, a Critica.
Claro que não é necessário estar fisicamente em uma dessas fases para que se produza textos referentes a elas, a analogia serve apenas para que se possa entender melhor o motivo de alguns formatos e regras e até visualizar as trocas de roupa e as intersecções que um pode modelo pode ter sobre o outro.
As regras e estruturas desses modelos não foram feitas para limitar, elas se destinam a orientar a criatividade, direcionando a mensagem para os seus destinatários verdadeiros.
Futuramente pretendo apresentar alguns parâmetros específicos para alguns modelos mais utilizados, como o controle fonético e/ou silábico da poesia clássica e hai kai, quantidade de caracteres de um microconto ou de uma noveleta, regras cultas de textos acadêmicos, etc.
O importante no momento é saber o que se vai encontrar em cada modelo, seja em um post de orkut, seja em um ensaio de literatura e agir de acordo com cada situação para que a comunicação se estabeleça.
Caso contrário, as paredes que deveriam nos proteger tornam-se prisões sem janelas ou portas e passam a impedir que possamos adentrar a esses mundos que existem nas palavras.
O objetivo da arte é nos libertar das paredes-prisão e nos conceder as paredes-lar onde se pode desfrutar do conforto e prazer de ir além da nossa imaginação, através da imaginação e criatividade do outro, até que as paredes deixem de ser necessárias, em todos os sentidos.

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