sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Oficina Literária - Como Escrever para a Internet


“Lembre-se que o mundo está a sua frente, não aos seus pés.”

(Danny Marks)


Pode parecer simples a publicação de um texto na Internet, principalmente devido a facilidade de fazê-lo. Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento de informática pode criar uma comunidade em um site de relacionamentos, um blog ou um texto informativo ou dissertativo e apresentá-lo ao mundo.

Existe, porém, uma diferença entre publicar um texto e obter o resultado desejado com o mesmo. Devido a esse fato, vou enumerar alguns pontos básicos.

Michel Charolles, pesquisando sobre a coerência nos textos, chegou a quatro regras básicas que chamou de meta-regras da Coerência, muito bem apresentadas por Antônio Suárez Abreu.

Veja o que o que ele nos diz, usando uma adaptação livre do texto:

- Meta-regra da Repetição – nada mais é do que aquilo que chamamos de coesão textual. O fato de, em uma frase, recuperarmos termos de frases anteriores, por meio de pronomes, elipses, elementos lexicais ou substitutivos constitui um processo de repetição ou recorrência. A coesão textual é, portanto, a primeira condição para que um texto seja coerente.

- Meta-regra de progressão – diz que um texto deve sempre apresentar informações novas à medida que vai sendo escrito.

- Meta-regra da não-contradição – Cada pedaço do texto deve “fazer sentido” com o que se disse antes

- Meta-regra de Relação – estabelece que o conteúdo do texto deve estar adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis.

Claro que apenas isso não torna o texto publicável, são os elementos primordiais a se ter em mente quando for produzir qualquer tipo de texto. A escolha do público alvo – pessoas que se pretende sintonizar com a idéia apresentada – e suas características é outro fator primordial.

Quando se publica na Internet, deve-se levar em consideração a abrangência que essa publicação poderá ter. Por isso a escolha do meio – mídia – é importante.

Um texto de apresentação em um tópico de comunidade de relacionamentos tem que ser indutivo, já que o objetivo é orientar e apresentar idéias para um debate interativo.

Já um texto feito para um blog, por outro lado, deve ser sintético e atrativo, para prender a atenção do leitor e passar o maior número de informações objetivadas em um espaço pequeno. O leitor de internet tem pressa e está sempre buscando coisas importantes para ele e semelhantes.

Por isso, não basta ter algo importante para ser dito, tem que ser claro e rápido, sem perda do conteúdo.

Está provado cientificamente que a Internet criou uma forma diferenciada de leitores e escritores e, um cuidado maior com o que é dito e como, é recomendável, já que a visibilidade dos conteúdos, além de ser maior, é abrangente podendo edificar carreiras ou destruí-las.

Na próxima vez que ler um texto na Internet ou postar o seu, lembre-se que o mundo está a sua frente, não aos seus pés.


Leitura recomendada – Curso de Redação – Antonio Suárez Abreu

Contato com o Autor: dannymarks63@gmail.com

Terra Seca




Eita sol malvado de forte que arrepia os cabelos fazendo brotar água onde nem tem! Sei lá de onde vem tanta quentura, só sei que o pó gruda, e cadê chuva pra limpar? Pé já está grosso de pisar esse chão bom pra fazer santo de barro, mas pó não gruda sem lágrima do céu, nem barro posso fazer! Ô chuva danada que nem lembro direito a cara, só terra e mandacarú, terra e mandacarú, e quando corto um está seco feito farinha! Que foram as duas únicas coisas que sobraram pra gente comer , farinha e miolo de mandacarú! Uma é branca outro é vermelho, e eu cor de terra seca já fazendo parte desse chão igual planta que brota mas nem vinga! Bem que o céu poderia abrir um pouquinho e tornar-se cinza pra molhar tudo por aqui, até eu, que nem sei mais como é que é. Vida dura essa minha sina sem estrada nem ribeirinha, quem dera um grotão que nem sequer é coisa desse chão! Falaram pra mim de uma tal sete quedas, tombo aqui só o meu quando cutuco pedra achando que do chão, é torrão. Testa molhada até que eu tenho, e se bobear, é a coisa mais molhada que eu me lembro, porque o resto é empapado igual meu pensamento! Mas me disseram que tem tanta água nesse chão, que só não sobe porque aqui é alto, e fica tudo lá pra baixo noutras terras. Porque é que eu nasci aqui, é que não sei. Mas cadê força pra andar pra lá, se bem que pra baixo todo santo ajuda, mas se santo ajudasse fazia o céu chorar. Tenho mais fé não. Nem no alto, nem no chão, tenho só ouvido meu coração gritando e se perguntando: canto de cá porque, se o de lá que é bom? Eu já andei tanto nesse chão poeirento, que se fosse em linha reta pra baixo já tinha encontrado quatro das sete quedas pelo menos! Nem precisava, que na primeira eu mergulhava e já tirava essa casca do couro, pra saber de que cor é que eu sou! Eita vida lazarenta, que nem me deu a certeza de um dia melhorar! Sorte quem tem é calango, que qualquer sobra serve de encosto, até dormir o maldito dorme! Eu só descanso quando o escuro vem, e depois de meia hora que os miolos esfriam, de tão cozido que o dia deixa! Eita sorte desgraçada, me deu um chão seco e uma enxada pra plantar, mas diabo, o que? Só se for pra regar com lágrima, mas seco como tô, e acostumado com isso tudo, só me resta é suspirar, e acreditar no dito popular que o sertão vai virar mar! E rezar muito, porque eu nem sei nadar! Eita destino filho de uma égua !

Marrco Blue - Membro da Comunidade Taverna Filosófica.

Oficina Literária - Escrevi! Só não sei o que é...




As paredes que protegem são as mesmas que aprisionam
(Danny Marks)

Como definir o que é um texto acadêmico de um texto artístico ou de um informal?
Todos usam, basicamente, os mesmos princípios e buscam o mesmo fim. O objetivo é usar símbolos para transmitir idéias coerentes.
Símbolos e modelos são as “paredes” de um texto. Como toda parede, ela protege ao mesmo tempo que limita e condiciona.
Todas as coisas precisam de limites para serem estáveis, bem como de flexibilidade para crescerem.
O corpo humano tem a parede externa que é a pele, e tem uma estrutura interna que ajuda a sustentação, o esqueleto.
Quando se pensa em um texto essa analogia é a que melhor atende. Imagine, então, o texto como sendo um corpo humano.
A idéia original é o esqueleto que dará a sustentação e coerência ao conjunto, as regras gramaticais e de formatação serão a pele que condicionam as palavras em um formato que pretende ser flexível, sem perder a coerência da idéia.
O estilo pessoal é como a roupa que esse corpo irá vestir, pode ser usada para realçar ou suavizar imperfeições e qualidades.
Considere agora que esse corpo possui uma idade característica. Essa idade representa o tipo de público a que se destina, o nicho social em que esse corpo deve ser inserido para que haja a receptividade a ele e cumpra a missão a que se destina.
Agora transporte essa imagem mental para os diversos formatos e sub formatos que um texto pode (e deve) assumir.
Um micro conto seria, na nossa analogia, um bebê. Com pouquíssimas palavras e nenhuma ambientação visível, ele deve transmitir idéias arquetípicas.
Já um Hai Kai, seria um sábio de pouca estatura vestindo uma poderosa armadura.
Um conto é, então, uma criança, imediato, direto, compacto sem ser complexo, autônomo em si mesmo mas com laços que se estendam e se completem com outras crianças e/ou adultos.
Uma noveleta já seria um pré adolescente com suas inconstâncias. Ora criança ora adulto imaturo, extenso e reprimido, seguro de si e impulsivo, uma verdadeira senóide.
Já a novela é o adolescente em sua fase pré adulta. Tem ares de que sabe tudo, que pode tudo, mas precisa de apoio para se sustentar ou sofre sérios problemas existenciais.
O Romance já é o adulto, auto suficiente. Pode ser gregário ou solitário. Tem o porte intermediário entre o formalismo da estrutura que agrega e o informalismo da aventura que constrói novos horizontes.
Já o texto Acadêmico é o idoso. Sua sabedoria segue o tradicionalismo que se fixa no que já está consagrado. Por isso mesmo é resistente a mudanças mas é sólido como sustentáculo. Tem a confiabilidade da erudição que serve de apoio a todas as fases anteriores, direcionando o crescimento.

Entre estas idades podemos colocar as fases existencialistas, que seriam modelos diferenciados, intermediários ou até união de modelos criando um novo formato.
A reportagem, por exemplo, situaria-se entre o jovem e o adulto, sua linguagem reduzida e direta, factual. Não tem tempo a perder.
Quanto mais tende para o jovem de nossa analogia, mais opinativa se torna, quanto mais próxima do adulto mais objetiva.
O diário fica entre a criança e o pré adolescente, o importante é o registro do que chama a atenção imediata, é modista, imediatista, sectário e seccionado.
A crônica já fica na faixa entre o adulto e o idoso, tem uma linguagem que mistura o estilo de reportagem opinativa com a erudição saudosista.
Nessa faixa também podemos encontrar o Artigo, a Resenha, a Critica.
Claro que não é necessário estar fisicamente em uma dessas fases para que se produza textos referentes a elas, a analogia serve apenas para que se possa entender melhor o motivo de alguns formatos e regras e até visualizar as trocas de roupa e as intersecções que um pode modelo pode ter sobre o outro.
As regras e estruturas desses modelos não foram feitas para limitar, elas se destinam a orientar a criatividade, direcionando a mensagem para os seus destinatários verdadeiros.
Futuramente pretendo apresentar alguns parâmetros específicos para alguns modelos mais utilizados, como o controle fonético e/ou silábico da poesia clássica e hai kai, quantidade de caracteres de um microconto ou de uma noveleta, regras cultas de textos acadêmicos, etc.
O importante no momento é saber o que se vai encontrar em cada modelo, seja em um post de orkut, seja em um ensaio de literatura e agir de acordo com cada situação para que a comunicação se estabeleça.
Caso contrário, as paredes que deveriam nos proteger tornam-se prisões sem janelas ou portas e passam a impedir que possamos adentrar a esses mundos que existem nas palavras.
O objetivo da arte é nos libertar das paredes-prisão e nos conceder as paredes-lar onde se pode desfrutar do conforto e prazer de ir além da nossa imaginação, através da imaginação e criatividade do outro, até que as paredes deixem de ser necessárias, em todos os sentidos.

Oficina Literária - Criação Literária


Na mitologia Hindu, Brahman é a realidade suprema, aquela que está por traz de todas as realidades que são apenas aspectos desta.

Brahman se divide em infinidades de aspectos que se relacionam entre si e criam novos aspectos do todo. Milhares de divindades ocupam o panteão Hindu, cada uma regendo um aspecto da vida e até atividades individuais de cada pessoa. Tudo é Brahman e, portanto, não há distinção ultima entre o que é o adorador, a oferenda e o Deus, apenas interpretações que se dão aos aspectos do absoluto.

Nesse contexto, a arte é a expressão maior dessa visão do Deus sobre o Deus.

O Artista é o Deus Criador menor que lança o seu olhar sobre o Absoluto e extrai dali a sua visão, a sua obra.

Para que seja capaz de fazer isso, é necessário que o artista possa compreender o que vê e traduzir, na sua obra, a visão e então poder compartilhá-la com outros.

A esse processo de olhar para o Absoluto e traduzi-lo em algo sintetizado, no que chamamos de Obra, que auxiliará outros aspectos do mesmo Absoluto a olhar para si mesmos e para o todo, podemos dar o nome de comunicação.

Existem vários formatos que a comunicação, vista dessa forma, pode assumir. Em cada formato, novas técnicas e formatos podem ser utilizados e desenvolvidos de foram a criar mecanismos que facilitem o contato entre o participante da Obra e Brahman.

Nessas miríades de relações e formatos que o ato de criar e transmitir a visão assume, pode-se perceber que ate mesmo o ato de comunicação é um ato de criação.

Nesta conversa informal que passaremos a ter, serão apresentados alguns dos inúmeros formatos e técnicas de criação literária, de forma que seja acessível a todos, e que servirá de treinamento de como se pode e deve flexibilizar uma idéia de forma que se faça contato entre os extremos sem que se perca o sentido original, concedendo abrangência à ela (idéia) para que cumpra o seu papel de unir, pelos laços da comunicação, aspectos diferenciados do Todo, que somos nós.


Estrutura Contextual


Todo texto precisa ter uma coerência lógica para que possa levar o sentido da mensagem ao seu destino, o leitor.

A essa coerência lógica, dá-se o nome de Estrutura Contextual Elementar, que é tão mínima e flexível que quase não se percebe, mas é de fundamental importância para que o texto funcione como um mensageiro de idéias.

Para se ter uma idéia de como essa estrutura é flexível podemos dizer que, todo texto precisa ter um começo, um meio e um fim para ser coerente. Porém, o que chamamos de começo, pode ser uma ambientação (a localização espaço/tempo/cultural que também serve de cenário para o texto) que muitas vezes nem aparece explícita no texto apresentado, sendo implícita no conteúdo ou na referência da obra como um todo, ou ainda sendo inferida durante o desenvolvimento da idéia.

O fim, por outro lado, pode estar apenas na mente do leitor e assumir diferentes formatos de acordo com a interpretação deste ou do seu momento psicológico. Nesses casos o texto tem que indicar o final, sem antecipá-lo.

Um texto pode, por exemplo, iniciar pelo “fim” mas este só será atingido realmente com a compreensão do leitor de tudo o que ocasionou aquele momento, sendo, portanto, a compreensão do leitor o verdadeiro “final” do mesmo.

Outra parte importante da Estrutura Contextual é o formato adotado. Para cada tipo de idéia ou finalidade desejada, é exigido um formato que pode ser mais ou menos rígido, com regras pré estabelecidas mais condicionantes ou mais flexíveis que direcionem.

Um post de Internet tem um formato necessariamente diferente de uma tese de doutorado ou de uma redação para um concurso de vaga para emprego.

Um conto é diferente de um romance, que é diferente de um diário, ou de uma reportagem, cada qual tem seu modelo próprio para que atenda ao seu objetivo e ao tipo de público que se destina. Respeitar esses formatos é uma das regras básicas para que haja uma boa estrutura contextual.

Dentro dessa questão de contextualização, também é importante ressaltar a harmonia da leitura. Como todos sabem, existe um “leitor” dentro de nossas cabeças que “fala” o que é lido como se estivesse contando a história para nossa memória. Quando esse leitor interno esbarra em algo que lhe desvie o fluxo de entendimento, gera uma perda de registro. Duas coisas podem provocar rapidamente essa distração.

Palavras não usuais para o tipo de público a ser atingido e, mais terrível ainda, Cacofonia.

A Cacofonia é um tipo de ruído produzido pela leitura de espécies de “Trava Línguas” que submetem o nosso leitor mental a um esforço maior de concentração, travando o desenvolvimento da leitura. É como um instrumento desafinado em uma sinfônica.

O efeito produzido se assemelha ao que se teria se pudéssemos deslizar as palavras pelos dentes de uma serra esbarrando nos picos dentados. Por exemplo:

“O que é que ela queria dizer com aquilo?”

A seqüência fonética dá a impressão de uma gagueira mental repetindo partículas de palavras que se sobrepõem a toda a frase, tirando a concentração do texto e focalizando-a em apenas uma parte, interrompendo o fluxo natural das idéias. Deve-se evitar isso substituindo-se os termos por outros equivalentes. Redundância das mesmas palavras durante seqüências mínimas de texto podem produzir o mesmo problema:

Ele sempre dava uma olhada pela janela

Ele sempre dava a si mesmo uma esperança

Ele sempre dava um olhar mais intenso nas madrugadas

Ele sempre dava a si uma desculpa para fazer aquilo.

Portanto temos, como regras elementares da Contextualização, o desenvolvimento dos eventos dentro de uma cronologia de raciocínio e interpretação, o formato previamente definido para o texto e publico a que se destina e a harmonia do fluxo de leitura.

Observando esses cuidados básicos o texto ficará mais direcionado e a comunicação entre o criador, a obra e o leitor se fará de forma mais prazerosa e perfeita.