terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Narrativas Curtas



“Vende-se: Sapatos de bebe, nunca usados.”
(Hernest Hemingway)

Esse provavelmente é o mais famoso exemplo de narrativa breve já conhecido. São seis palavras que contam uma história, ou várias, de acordo com o leitor.
Não é uma coisa simples de ser feita, e não se espera que todos os autores tenham essa concisão. O que se deseja é que os textos sejam objetivos e simples, fáceis de entender e com uma elaboração que ultrapasse os limites das palavras.
Um livro se inicia pelo título, se estende pela capa, dedicatória, prefácio e finalmente o conteúdo. Eu me lembro de um livro famoso nos idos de ´70. O título era bem sugestivo, A Vida Sexual do Homem de 60 Anos. Era um livro de aproximadamente 150 páginas. Quando se abria o volume, notava-se que as páginas estavam em branco, exceto a ultima que dizia: “Apresse-se! Escreva suas memórias. Eu não consegui.”
Não me pergunte quem é o autor, dei o livro de presente, mas a advertência tem me perseguido pelos últimos vinte anos. Será o tema de um futuro livro, espero escrever antes dos 60 anos, mas ainda estou recolhendo material.
Esses dois exemplos demonstram como um texto pode ser trabalhado, desde o título até o local onde esse texto será inserido, tudo pode ser elemento do texto e ir além dele na construção da história.
Quando eu digo: Finalmente dormiu, descanse em paz. O que estou fazendo é contando uma historia em cinco palavras, cada uma delas modificando o significado das anteriores, acrescentando e direcionando a imaginação, criando um contato com o leitor e sua capacidade de entender o que esta na mente do autor.
Vejamos um exemplo de uma construção de um microconto e como as palavras o modificam conforme vão sendo acrescidas.
Título: Amor Virtual
Texto: Digite Sexo.
O título e o texto se completam e criam uma história que pode ser ampliada ou modificada: Digite sexo e idade. Fantasie, não minta.
A cada acréscimo o sentido se modifica. No primeiro complemento fica frio, muda o sentido do primeiro termo, no segundo retoma um caminho diferente e modifica o título.
Esse poder de alterar toda uma seqüência, está em cada palavra em um texto, cada vírgula, cada ponto. Brincar com esses elementos é construir formas diferentes de dar uma mensagem que pode ser explicita ou obscura, com múltiplos significados, como na frase: Sorria! A câmera está quebrada.
O motivo para o sorriso pode ser o mais variado. A frase pode ser uma piada, ou o dialogo entre dois bandidos, ou ainda a constatação de uma tragédia. Tudo depende do contexto onde a frase vai ser usada. O que fica claro é que há dois interlocutores, o que manda sorrir e o outro que poderá sorrir, ou não, se for o dono da câmera. Se eu inserir apenas uma palavra, “já”, eu condiciono a frase a uma situação mais específica: Sorria! A câmera JÁ está quebrada. Modifiquei a frase que passa a descrever um ato de vandalismo, no mínimo, com a cumplicidade do outro interlocutor.
É preciso prestar atenção a cada palavra que se insere no texto, de forma que elas cumpram o objetivo de tornar indiscutível a situação, criando, porém, o vínculo mágico entre o leitor e o autor de forma que possam conversar e acompanhar a história que será contada. Então, serão testemunhas oculares do encanto da literatura.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Querêncio


Dentro do Armário
mora um monstro
de cara amarrada
e dentes grandes.
Sempre que o menino se deita
o monstro o observa vigilante.

De noite,
em silêncio
matreiro
abre a porta.
Espia o menino Querêncio
que dorme
de boca torta.

Pé por pé
o monstro
deixa o armário,
da cama vai se aproximando.
E o pobre do Querêncio dorme
chega a estar ronronando.

O monstro
os braços levanta
preparando o ataque fatal.
Irá devorar o menino
tal qual um peru
em noite de natal.

Porém, ora veja!
Que surpresa!
De malvado
o monstro só tem o jeito.
Com cuidado cobre o menino
da ponta dos pés até o peito.

Para o armário
o monstro retorna,
sensação de dever cumprido.
Volta para vigiar o sono
De Querêncio,
seu amigo querido.

Jana Lauxen - Membro da Taverna Filosófica.

Sei que o texto fala de um personagem menino e a imagem que ilustra é uma menina, porém para quem já teve oportunidade de ver uma foto da Jana sabe que a imagem tem tudo a ver com ela. Cara de sapeca, olhão verde... E escondida em baixo do cobertor assutada como o Querêncio!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Meus 44 anos





Preciso correr. Correr contra o tempo, correr, correr, correr. Não descobri ainda porque o céu é azul, e não de outra cor. Tampouco porque pássaros voam, golfinhos nadam, jubartes cantam, e o vento por entre as folhas de uma árvore também. Não descobri porque crianças levam 1 ano para andarem, e outros animais alguns minutos, nem porque uma lágrima de criança comova tanto, assim como o olhar de um pobre velho doente. Preciso correr, mais depressa que os amigos, para esperá-los logo mais ali na frente, correr para dobrar as curvas do meu caminho com tempo e calma, não correndo o risco de dobrar esquinas erradas. Correr... correr... Correr para tentar voltar a sentir o perfume de coisas que o cigarro não me permite mais sentir, correr para entender pq adultos estancam diante do problemas, enquanto as crianças caem, caem, mas estão sempre seguindo adiante em busca do que querem, independente dos obstáculos. Ainda preciso descobrir pq crescemos tanto, e ao invés da vida se tornar mais fácil, se torna mais dura, porque trabalhamos tanto, e quando estamos velhos e vamos descansar, não temos força, nem ânimo, nem saúde para fazermos tudo que sonhamos anteriormente. Quero descobrir porque algumas flores são amarelas, outras brancas, outras violetas, outras margaridas. E porque algumas são rosas, mas de tantas cores são que nem sei ainda dizer quantas são, mas pra isso vou correr. Para descobrir. Porque hoje, eu senti uma coisa com muita força: que preciso correr. Correr se quiser ver tanta coisa que ainda quero ver, porque meu tempo... bom, é melhor correr... há tanta coisa ainda a fazer, ver, descobrir... nem sei se compensa... estou cansado. Pela primeira vez em minha vida, eu me sinto assim: cansado...




Marcco Blue

domingo, 2 de novembro de 2008

MANCHETES

OS ASSUNTOS MAIS BACANAS,OU MAIS POLÊMICOS,
OU MAIS DEBATIDOS NA TAVERNA
AUTOR -Lilian

Lições de vida
Era um sábado à noite, uma noite gelada de Agosto. Estou contando isso porque não consegui esquecer (e porque já bebi um cadinho e estou de pileque). rs

Talvez não esqueça nunca. Esperava a namorada em frente a uma barraquinha de pipocas; em frente ao Lumière; enquanto aguardava sua volta com os ingressos para o filme, o velhinho apareceu. Sujo e amarrotado.


Mendigos se parecem em todos os lugares do mundo, pensei. Mas este era diferente; não pediu nada a ninguém; uma madame comprou pipoca, um casal também. O velhinho mendigo continuou ali, paciente, sentado em frente a um enorme banco, império das riquezas e dos gerentes sem alma. Mas era sábado à noite, de modo que ninguém o expulsou.

Então eu tremia de frio, apesar do casaco grosso; e ele ali, o velhinho, me olhou. Retribuí. Então ele sorriu, e tinha os olhos mais doces do mundo. Tirou das suas coisas uma sacolinha branca de supermercado, amarrotada e suja. E falou com o pipoqueiro que, gentil, encheu a sacola do velho mendigo com pipocas. As mesmas que iam alimentar a madame, o casal de namorados e, logo em seguida, também eu.

Engoli em seco. O velhinho mantinha a sanidade e uma certa dignidade por trás do cobertor sujo. Novamente, me olhou e sorriu. E me disse: boa noite! Sorriu novamente, encantado pela minha resposta ao cumprimento. Depois, sentou na frente do banco, enrolou-se e começou a comer as pipocas, entre feliz e envergonhado.

Eu engoli em seco, novamente. Pensando na virtude do meu belo casaco, no abraço quente da minha namorada, na cama quentinha que me esperava. Triste. O céu tinha estrelas, as mesmas que eu e o pobre senhor enxergava, também. A luz fraca da noite era nossa. Tão minha quanto dele quanto da madame, quanto do casal de namorados, quanto do pipoqueiro generoso. Mas não tive vontade de me olhar no espelho, depois. Podia ser qualquer um de nós ali.

E a noite continuou fria e escura, e mais triste. Mesmo.

Alguma história que tenha te sacudido assim?

domingo, 26 de outubro de 2008

HALL DA FAMA



TERCEIRO COLOCADO NO 2º CONCURSO LITERARIO

DA COMUNIDADE TAVERNA FILOSOFICA


DEPOIS DE DEPOIS DO DIA QUE MORRI -


AUTOR MARIA

Foi como acordar dos mortos. Uma sensação única. As idéias ainda estavam meio confusas, e as imagens distorcidas, mas pouco a pouco foi ficando tudo muito claro. Meu corpo doía como se tivesse despencado de um prédio. As lembranças passavam como um flash em minha mente.
Tudo aconteceu muito rápido, me formei em engenharia e logo assumi os negócios da família, pois já venho de uma descendência de engenheiros e arquitetos renomados, e não fugi a regra. Logo já tinha meu escritório bem equipado, meu diploma pendurado na parede, ostentado como um troféu.
Não demorou muito já estava nas altas rodas, desfilando com as mais belas mulheres, freqüentando a nata da sociedade paulista, fui até citado em jornais, na parte de coluna social, como o mais disputado solteiro do pedaço.
E foi nestas badalações todas que fui apresentado à figura mais conhecida de todas as rodas, aquela que a principio todos pensam que vão dominar, mas que ilusão... ela se deixa dominar até nos ter totalmente em suas mãos, e é aí que ela mostra quem realmente manda e domina, ela a mais pura, a mais atraente, a mais envolvente dama, a Cocaína.
No início fiquei encantado, ela me levava a lugares que nunca imaginará, tocava nas estrelas, com ela cheguei ao maior êxtase possível, podia jurar que me lavará ao nirvana, depois ela me fascinava, não conseguia mais viver sem ela, ela já fazia parte de mim, quando não a sentia, meu mundo desabava, eu enlouquecia, nada me importava mais, era ela e mais nada, já me possuía, já era ela quem ditava as regras, era o principio da minha morte, e eu nem dava conta disto.
Mas as coisas já tinham começado a mudar em minha vida, já não era mais convidado para as grandes festas, as belas mulheres não eram mais tão belas assim, eu já não era mais atraente para elas, das colunas sociais, passei para as paginas criminais, “– O solteiro mais cobiçado, foi preso por dirigir em alta velocidade e por portar vários papelotes de cocaína...”, foi o necessário para que me minha ruína viesse á tona, minha família já não confiava mais em mim, meu escritório, nem as moscas mais visitavam, logo tive que entregar a sala, meu diploma se tornará um peso, e logo a parede não o sustentava mais.
Perdi totalmente a noção das coisas, não sabia mais quando era dia ou noite, tudo se tornará cinzento e frio, quando não estava dormindo, coisa que fazia muito pouco, estava comendo compulsivamente e feito um louco atrás dela.

E foi num momento de lucidez que minha razão chamou-me a atenção. Era ela, maldita, que eu odiava e amava tão intensamente, queria me livrar e ao mesmo tempo me jogar nela.
E ela mais uma vez, foi mais forte que eu, e percebeu minha intenção em deixa lá, e foi a aí que realmente vi sua verdadeira face, feia, má, cruel a verdadeira face da morte, e quando pensei em fugir, ela me deu o golpe final, sua dose foi dobrada e meu coração não agüentou, parecia explodir em meu peito.
Eu morri. Fui socorrido imediatamente, pois ainda havia um sopro de vida, estava por um fio, e por ele tinha que lutar, e foi uma guerra que parecia não ter fim, foram três meses, onde conheci o inferno, onde o demônio se divertia com meu sofrimento.
Mas não sei como e nem porque, só sei que alguém gosta de mim, e me deixei levar, pois não tinha mais nada a perder, e foi ai que a calmaria chegou e eu despertei, como se tivesse voltado dos mortos. ...................Fim!!!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

HALL DA FAMA


SEGUNDO CONCURSO LITERARIO DA TAVERNA
SEGUNDO COLOCADO

O JURI -

By NIGEL

Eram cinco da madrugada. No banheiro de lajes brancas, parado em frente à louça da pia, segurava a navalha com a mão um pouco trêmula, o queixo protejatado adiante, a lâmina mirando o próprio rosto.

Eu não dormia a três dias. Era um julgamento longo, e o júri agora examinava mais uma evidência, um tímido fio de sangue descendo pela lateral da face. O espelho alegava dolo, apontando para a mão trêmula ainda com a navalha em mãos. Pingos começaram a cair sobre a louça pesada da pia, e dançavam até o ralo.

Eram três dias de memória em depoimento. Havia defensor. Minha mente alega instinto, e pede abrandamento da pena. Tudo o que fiz até hoje foi por instinto, e assim espero convencer o juri que todo e qualquer dos meus atos foi uma interminável cadeia de confusões e ciladas da minha humanidade. E assim declaro que sim, eu me esgueirei noite adentro até aquela mulher por instinto. Eu não poderia ter feito melhor, e espero que entendam, minhas culpas, que o fiz da melhor forma que eu sei. Com bravura incansável foi que obrei laboriosamente pela madrugada, e cada passo de dança foi um mal menor para um bem maior.

E se é que a deixei foi novamente por instinto. Grandes mentiras... ela era uma grande mentirosa... e que tipo de cínico fui eu que relevei cada uma das mentiras. Aparar o amor como um golpe em falso no ar, para distrair, porque o próximo golpe que vem é uma estocada precisa no coração. E o promotor alega que por isso, não dei chance de defesa. Mas ela era uma suicida. Ela havia puxado o gatilho anos atrás, e o cão da arma levou quatro anos indo lentamente em direção à espoleta da bala. Eu a deixei por sobrevivência. Era meu instinto.

Para estes fins eu declaro, que o sabor de ter feito alguma justiça poética foi doce. Havia um sabor doce nisso tudo. Enquanto minha boca dizia "adeus", o grilo em meu ombro dizia "chore por mim... chore... agora deves chorar". Mas até o choro dela era mentiroso.

Deixei o lavabo, e na cozinha o led da cafeteira tinha acabado se apagar-se. Pausa: café fumegante. Esparadrapo no rosto.

O saco de areia pendia na sala pouco mobiliada. Foi também por instinto, eu insisto em minha defesa. Eu não conseguia perdoar a inépcia de Mateus com as luvas. A cada vez que saía de sua guarda com a esquerda, seu nariz se tornava um alvo vermelho e branco, e eu gentilmente mostrei isso a ele. Mirei no bull's eye, e desci sobre ele como um trem de carga descarrilhado. O direto quebrou seu nariz em três lugares, fiquei sabendo. É preciso quebrar um nariz ao menos duas vezes para que não sangre em excesso, e a primeira fratura de Mateus foi um presente meu.

Há uma generosidade em mostrar a alguém um erro dessa maneira. Trens de carga...

Eu saía do galpão de reparos toda a noite. O barulho infernal das buzinas, caixas de ferramentas, cada milímetro daquele lugar era recoberto de graxa. Não foi minha a idéia de colocar uma cobra morta dentro do armário de Ademar. "Mas você riu! Você riu!" berrava o promotor. Sim, eu ri. Eu ri até o momento em que lívido, e entre todos os colegas no vestiário, podia-se ver a massa de fezes correr pelas pernas de Ademar. Ele demitiu-se. Eu não pus a cobra em seu armário, eu a matei apenas. "Então foi cúmplice!" Sim eu fui.

Eu devo ir longe nisso? Já são três dias de julgamento. Toda uma trajetória de tolices, e ontem eu fiz trinta e três anos. Ontem eu morri. Eu devo merecer o Prêmio Darwin por ter cooperado com a seleção natural. Por no dia do meu aniversário resvalar no tapete do banheiro enquanto me barbeava, e acertar minha própria jugular. Já faz um dia que meu corpo jaz gelado no piso do banheiro. Ninguém telefonou ainda. A cafeteira ficou ligada, e nas próximas duas horas, um curto circuito irá atear fogo em todo o apartamento. Não posso fazer nada... estou apenas rezando para que o vizinho veja a fumaça antes de sair para trabalhar, e deixar os dois filhos pequenos em casa. Espero que ele veja.

Do meu lado está aquela garota mentirosa que se suicidou. Também a cobra, e também Ademar, que coberto de vergonha caminhou macambúzeo até em casa, e não viu aquele caminhão dobrar a esquina.

Estamos os três aqui, esperando meu veredito.

===Fin===

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

HALL DA FAMA



SEGUNDO CONCURSO LITERARIO DA TAVERNA
CONTO VENCEDOR


O Estranho Caso do Sr Jones

Campina Verde, é o nome da cidade. Poderia se chamar São João do Roque, padroeiro da mesma, ou ainda Anandaçú, ou qualquer outro nome que seus fundadores quisessem lhe dar. Mas foi assim chamada devido ao estranho caso que ocorreu no Cemitério local, chamado de Campina Verde porque era essa a impressão que se tinha ao visitá-lo, uma imensa campina coberta de grama com algumas placas colocadas sobre o solo para indicar onde estavam enterrados os cidadãos eméritos que vieram a falecer.Ou quase todos, já que nunca foi esclarecido o que aconteceu com o Sr Jones Antuérpia, um dos mais eméritos cidadãos da pequena vila.

Imigrante de outras terras, tinha encontrado seu lugar entre as casas e corações de Campina Verde e, talvez por ser o médico do lugar e ver tantas pessoas vir ao mundo e ajudar a que se mantivessem nele, foi o primeiro a ver a necessidade de se dar um destino louvável aos que deste partissem.Assim, quando decidiu-se por uma área livre, de terra fofa (e os futuros coveiros sempre lhe agradeceriam por esse cuidado) rodeada de arvores frondosas e de belas flores, para ser o cemitério do lugar, ninguém se opôs a ele. Como não havia corpos mortos para serem depositados, outros corpos, bem vivos, achavam-se no direito de deitar-se ali, e alguns até a, ironicamente, buscarem mais vidas para este mundo e para as bênçãos do Sr Jones e suas mãos mágicas.

E a cidade foi crescendo cheia de bem aventurança, e nada do dito cemitério ser inaugurado. Não que houvesse pressa alguma disso, já que serventia lhe era dada, ainda que não a que se destinava de fato. Até que, um dia, por uma triste coincidência, o digníssimo Sr Jones veio a falecer.

Contam alguns moleques em suas conversas escusas, que foi quando o fogoso Sr Jones se debruçava sobre uma de suas clientes, examinando-lhe com instrumento próprio, o interior de suas partes pudicas, ainda que sem fins médicos que fossem necessários, mas que de bom grado o fazia, e não só com ela, que se apresentava ao infortúnio desse momento, mas com toda que lhe dissesse não ter vínculos maritais que a comprometesse.

Mas eis que esta, a do infortúnio, embora sem vínculos explícitos a todos, que se pudesse comprovar, tinha lá seus vínculos com o José de Arimatéia, famoso em toda a vizinhança por seus modos nada delicados com moças e piores ainda com os homens. Beberrão mais que consagrado, e criador de casos e descasos. Tolerado apenas, e não muito, devido a sua habilidade indizível de destrinchar qualquer bicho que lhe caísse às mãos e às facas, que portava sempre na cinta, a pretexto de qualquer necessidade de última hora.

E não foi por sorte de um, e azar de outro, que o dito cujo, José, adentrou no consultório do Sr Jones devido a desarranjo por algo que havia comido e que lhe soltara os fluidos superiores e inferiores, e encontra o digníssimo cidadão em pleno ato de comer algo que não devia, também.

_ Maria da Roça – disse o José de Arimatéia. Ambos nomes que não constam da lista de moradores para protegê-los, e ao relator, que não é nada bobo – o que estás a fazer com o nobre doutor?Há quem possa dizer que não foram estas as palavras, também, mas existem tantas versões do ocorrido que mais uma não há de fazer diferença perceptível.

_ Aiiii, aii, meu peito...aiiiiiiiii......Antes que se pense que a pobre moça estava com algum problema, o peito a que se refere a dor, foi o do Sr Jones que ao ver o estrago que a comida iria lhe fazer, resolveu que melhor seria sofrer um infarto fulminante, como o olhar do menestrel das facas, o João, bem o sabe quem já o viu fazê-las cantar, atritadas uma contra a outra, a desempenar-lhe o fio cortante.

E assim dizendo, o digníssimo Sr Jones estatelou-se ao chão com uma das mãos a agarrar a camisa na altura do coração e a outra a segurar as calças, prontificando-se ele mesmo a inaugurar o cemitério que criara.

Diante da inusitada situação, João, para salvar a honra de si e de sua amada, achou melhor de dizer que o pobre havia partido desta para melhor por arte da mal afamada adversária de todos os médicos. E prontificou-se a ficar postado ao lado do mesmo, em homenagem póstuma ao tanto, de galhos diriam alguns, que o concidadão havia lhe dado em vida.

E assim foi feito, pois que ninguém conseguiria, ainda que tivesse vontade, fazer João arredar de sua homenagem ao falecido.
Rapidamente providenciaram um caixão e colocaram o defunto para se deitar em seu ultimo lugar de repouso, vigiado de perto pelo seu novo cão de guarda, que nem piscava, e até, admirado seja esse seu ato nobre, recusou-se a “beber o cadáver”, como a tradição mandava, mas que por lhe dever tanto, abstêmio se tornava a partir daquele momento de tristeza.

E foi homenageado por todos dignatários do local, o distinto Sr Jones, que em vida tantos servira e na morte inaugurava o seu último feito de renome. Decidiu-se, no calor do momento e do líquido ingerido, por todos presentes, que se deveria dar nome para a cidade do mesmo lugar onde o nobre concidadão repousaria em seu descanso eterno.

A homenagem póstuma, na qual havia se convertido o velório, se estendeu por todo o resto do dia e durante a noite até que ninguém se agüentou de sono ou de bebida e caiu em algum canto sem arredar o pé. Até mesmo o João acabou se aninhando nos braços da desconsolada Maria e se consolou ele, ao seu jeito.No dia seguinte o caixão já fechado foi levado, e escoltado. Estranharam o leve peso que se sentiu, vai que foi devido ao Sr Jones ter alma tão pura que esse milagre lhe sucedia, mas no estado que estavam ninguém sequer levantou objeção a um peso menor a ser conduzido.

Colocado o caixão na cova inaugural e coberto por terra e flores, foi deixado à própria sorte. Coisa indigna de se dizer de quem não a teve tanto quanto merecia, mas que se fazer a essa altura?

No dia seguinte, João inconformado do ocorrido, se dispôs a ir ao lugar de destino final do amado médico, que tanta falta ia fazer a muitos, e porque não dizer até mesmo ao pobre homem que chorava, não se sabia bem do motivo e, nesse momento de tristeza, decidiu cometer o sacrilégio de cavar a terra e remover o caixão apenas para entregar, como jura de pé junto até hoje, ao digno concidadão, suas inseparáveis amigas de trabalho de diversão.
Seu berro foi ouvido nos confins da cidade, que tão grande não era, e quando os moradores foram verificar o que se assucedia, encontraram o caixão vazio aos seus pés.

_ Sumiu. Quando abri não estava mais entre nós – disse João desfigurado pela surpresa do ocorrido.
– Não lhe tirei os olhos um minuto e sumiu assim, na minha frente.
_ Um Milagre! Era um santo homem mesmo – disse alguém
_ Subiu aos céus com corpo e tudo – disse outro
E todos confirmaram, a bem de melhor resolver a coisa.

Desde então, João virou outro homem, convertido em sua fé imorredoura que revelou na morte do Santo Homem e acabou por se casar com Maria.
Maria da Roça teve que recorrer a outro médico para lhe fazer o parto, vigiada de perto pelo João para garantir-lhe a saúde. Ainda diz sentir a benção de São Jones, que para ela sempre foi um santo, em sua vida.

Quem se atreverá a dizer o contrário, ainda que João, tornado beato pela arte do santo, agora porte as facas escondidas sob as roupas, para o caso de poder entregá-las pessoalmente ao Sr Jones, como sempre foi seu desejo.
O Caixão vazio foi novamente enterrado e colocada a placa merecida em seu devido lugar, garantido que estava por seus atos em vida.
Por mais misteriosa que tenha sido a ocorrência do milagre, uma dúvida ninguém a tem: O Sr Jones, em vida, nunca há de voltar ao lugar que lhe foi destinado em Campina Verde.
E que todos digam amém.


AUTOR: DANNY MARKS

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Oficina Literária - Como Escrever para a Internet


“Lembre-se que o mundo está a sua frente, não aos seus pés.”

(Danny Marks)


Pode parecer simples a publicação de um texto na Internet, principalmente devido a facilidade de fazê-lo. Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento de informática pode criar uma comunidade em um site de relacionamentos, um blog ou um texto informativo ou dissertativo e apresentá-lo ao mundo.

Existe, porém, uma diferença entre publicar um texto e obter o resultado desejado com o mesmo. Devido a esse fato, vou enumerar alguns pontos básicos.

Michel Charolles, pesquisando sobre a coerência nos textos, chegou a quatro regras básicas que chamou de meta-regras da Coerência, muito bem apresentadas por Antônio Suárez Abreu.

Veja o que o que ele nos diz, usando uma adaptação livre do texto:

- Meta-regra da Repetição – nada mais é do que aquilo que chamamos de coesão textual. O fato de, em uma frase, recuperarmos termos de frases anteriores, por meio de pronomes, elipses, elementos lexicais ou substitutivos constitui um processo de repetição ou recorrência. A coesão textual é, portanto, a primeira condição para que um texto seja coerente.

- Meta-regra de progressão – diz que um texto deve sempre apresentar informações novas à medida que vai sendo escrito.

- Meta-regra da não-contradição – Cada pedaço do texto deve “fazer sentido” com o que se disse antes

- Meta-regra de Relação – estabelece que o conteúdo do texto deve estar adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis.

Claro que apenas isso não torna o texto publicável, são os elementos primordiais a se ter em mente quando for produzir qualquer tipo de texto. A escolha do público alvo – pessoas que se pretende sintonizar com a idéia apresentada – e suas características é outro fator primordial.

Quando se publica na Internet, deve-se levar em consideração a abrangência que essa publicação poderá ter. Por isso a escolha do meio – mídia – é importante.

Um texto de apresentação em um tópico de comunidade de relacionamentos tem que ser indutivo, já que o objetivo é orientar e apresentar idéias para um debate interativo.

Já um texto feito para um blog, por outro lado, deve ser sintético e atrativo, para prender a atenção do leitor e passar o maior número de informações objetivadas em um espaço pequeno. O leitor de internet tem pressa e está sempre buscando coisas importantes para ele e semelhantes.

Por isso, não basta ter algo importante para ser dito, tem que ser claro e rápido, sem perda do conteúdo.

Está provado cientificamente que a Internet criou uma forma diferenciada de leitores e escritores e, um cuidado maior com o que é dito e como, é recomendável, já que a visibilidade dos conteúdos, além de ser maior, é abrangente podendo edificar carreiras ou destruí-las.

Na próxima vez que ler um texto na Internet ou postar o seu, lembre-se que o mundo está a sua frente, não aos seus pés.


Leitura recomendada – Curso de Redação – Antonio Suárez Abreu

Contato com o Autor: dannymarks63@gmail.com

Terra Seca




Eita sol malvado de forte que arrepia os cabelos fazendo brotar água onde nem tem! Sei lá de onde vem tanta quentura, só sei que o pó gruda, e cadê chuva pra limpar? Pé já está grosso de pisar esse chão bom pra fazer santo de barro, mas pó não gruda sem lágrima do céu, nem barro posso fazer! Ô chuva danada que nem lembro direito a cara, só terra e mandacarú, terra e mandacarú, e quando corto um está seco feito farinha! Que foram as duas únicas coisas que sobraram pra gente comer , farinha e miolo de mandacarú! Uma é branca outro é vermelho, e eu cor de terra seca já fazendo parte desse chão igual planta que brota mas nem vinga! Bem que o céu poderia abrir um pouquinho e tornar-se cinza pra molhar tudo por aqui, até eu, que nem sei mais como é que é. Vida dura essa minha sina sem estrada nem ribeirinha, quem dera um grotão que nem sequer é coisa desse chão! Falaram pra mim de uma tal sete quedas, tombo aqui só o meu quando cutuco pedra achando que do chão, é torrão. Testa molhada até que eu tenho, e se bobear, é a coisa mais molhada que eu me lembro, porque o resto é empapado igual meu pensamento! Mas me disseram que tem tanta água nesse chão, que só não sobe porque aqui é alto, e fica tudo lá pra baixo noutras terras. Porque é que eu nasci aqui, é que não sei. Mas cadê força pra andar pra lá, se bem que pra baixo todo santo ajuda, mas se santo ajudasse fazia o céu chorar. Tenho mais fé não. Nem no alto, nem no chão, tenho só ouvido meu coração gritando e se perguntando: canto de cá porque, se o de lá que é bom? Eu já andei tanto nesse chão poeirento, que se fosse em linha reta pra baixo já tinha encontrado quatro das sete quedas pelo menos! Nem precisava, que na primeira eu mergulhava e já tirava essa casca do couro, pra saber de que cor é que eu sou! Eita vida lazarenta, que nem me deu a certeza de um dia melhorar! Sorte quem tem é calango, que qualquer sobra serve de encosto, até dormir o maldito dorme! Eu só descanso quando o escuro vem, e depois de meia hora que os miolos esfriam, de tão cozido que o dia deixa! Eita sorte desgraçada, me deu um chão seco e uma enxada pra plantar, mas diabo, o que? Só se for pra regar com lágrima, mas seco como tô, e acostumado com isso tudo, só me resta é suspirar, e acreditar no dito popular que o sertão vai virar mar! E rezar muito, porque eu nem sei nadar! Eita destino filho de uma égua !

Marrco Blue - Membro da Comunidade Taverna Filosófica.

Oficina Literária - Escrevi! Só não sei o que é...




As paredes que protegem são as mesmas que aprisionam
(Danny Marks)

Como definir o que é um texto acadêmico de um texto artístico ou de um informal?
Todos usam, basicamente, os mesmos princípios e buscam o mesmo fim. O objetivo é usar símbolos para transmitir idéias coerentes.
Símbolos e modelos são as “paredes” de um texto. Como toda parede, ela protege ao mesmo tempo que limita e condiciona.
Todas as coisas precisam de limites para serem estáveis, bem como de flexibilidade para crescerem.
O corpo humano tem a parede externa que é a pele, e tem uma estrutura interna que ajuda a sustentação, o esqueleto.
Quando se pensa em um texto essa analogia é a que melhor atende. Imagine, então, o texto como sendo um corpo humano.
A idéia original é o esqueleto que dará a sustentação e coerência ao conjunto, as regras gramaticais e de formatação serão a pele que condicionam as palavras em um formato que pretende ser flexível, sem perder a coerência da idéia.
O estilo pessoal é como a roupa que esse corpo irá vestir, pode ser usada para realçar ou suavizar imperfeições e qualidades.
Considere agora que esse corpo possui uma idade característica. Essa idade representa o tipo de público a que se destina, o nicho social em que esse corpo deve ser inserido para que haja a receptividade a ele e cumpra a missão a que se destina.
Agora transporte essa imagem mental para os diversos formatos e sub formatos que um texto pode (e deve) assumir.
Um micro conto seria, na nossa analogia, um bebê. Com pouquíssimas palavras e nenhuma ambientação visível, ele deve transmitir idéias arquetípicas.
Já um Hai Kai, seria um sábio de pouca estatura vestindo uma poderosa armadura.
Um conto é, então, uma criança, imediato, direto, compacto sem ser complexo, autônomo em si mesmo mas com laços que se estendam e se completem com outras crianças e/ou adultos.
Uma noveleta já seria um pré adolescente com suas inconstâncias. Ora criança ora adulto imaturo, extenso e reprimido, seguro de si e impulsivo, uma verdadeira senóide.
Já a novela é o adolescente em sua fase pré adulta. Tem ares de que sabe tudo, que pode tudo, mas precisa de apoio para se sustentar ou sofre sérios problemas existenciais.
O Romance já é o adulto, auto suficiente. Pode ser gregário ou solitário. Tem o porte intermediário entre o formalismo da estrutura que agrega e o informalismo da aventura que constrói novos horizontes.
Já o texto Acadêmico é o idoso. Sua sabedoria segue o tradicionalismo que se fixa no que já está consagrado. Por isso mesmo é resistente a mudanças mas é sólido como sustentáculo. Tem a confiabilidade da erudição que serve de apoio a todas as fases anteriores, direcionando o crescimento.

Entre estas idades podemos colocar as fases existencialistas, que seriam modelos diferenciados, intermediários ou até união de modelos criando um novo formato.
A reportagem, por exemplo, situaria-se entre o jovem e o adulto, sua linguagem reduzida e direta, factual. Não tem tempo a perder.
Quanto mais tende para o jovem de nossa analogia, mais opinativa se torna, quanto mais próxima do adulto mais objetiva.
O diário fica entre a criança e o pré adolescente, o importante é o registro do que chama a atenção imediata, é modista, imediatista, sectário e seccionado.
A crônica já fica na faixa entre o adulto e o idoso, tem uma linguagem que mistura o estilo de reportagem opinativa com a erudição saudosista.
Nessa faixa também podemos encontrar o Artigo, a Resenha, a Critica.
Claro que não é necessário estar fisicamente em uma dessas fases para que se produza textos referentes a elas, a analogia serve apenas para que se possa entender melhor o motivo de alguns formatos e regras e até visualizar as trocas de roupa e as intersecções que um pode modelo pode ter sobre o outro.
As regras e estruturas desses modelos não foram feitas para limitar, elas se destinam a orientar a criatividade, direcionando a mensagem para os seus destinatários verdadeiros.
Futuramente pretendo apresentar alguns parâmetros específicos para alguns modelos mais utilizados, como o controle fonético e/ou silábico da poesia clássica e hai kai, quantidade de caracteres de um microconto ou de uma noveleta, regras cultas de textos acadêmicos, etc.
O importante no momento é saber o que se vai encontrar em cada modelo, seja em um post de orkut, seja em um ensaio de literatura e agir de acordo com cada situação para que a comunicação se estabeleça.
Caso contrário, as paredes que deveriam nos proteger tornam-se prisões sem janelas ou portas e passam a impedir que possamos adentrar a esses mundos que existem nas palavras.
O objetivo da arte é nos libertar das paredes-prisão e nos conceder as paredes-lar onde se pode desfrutar do conforto e prazer de ir além da nossa imaginação, através da imaginação e criatividade do outro, até que as paredes deixem de ser necessárias, em todos os sentidos.

Oficina Literária - Criação Literária


Na mitologia Hindu, Brahman é a realidade suprema, aquela que está por traz de todas as realidades que são apenas aspectos desta.

Brahman se divide em infinidades de aspectos que se relacionam entre si e criam novos aspectos do todo. Milhares de divindades ocupam o panteão Hindu, cada uma regendo um aspecto da vida e até atividades individuais de cada pessoa. Tudo é Brahman e, portanto, não há distinção ultima entre o que é o adorador, a oferenda e o Deus, apenas interpretações que se dão aos aspectos do absoluto.

Nesse contexto, a arte é a expressão maior dessa visão do Deus sobre o Deus.

O Artista é o Deus Criador menor que lança o seu olhar sobre o Absoluto e extrai dali a sua visão, a sua obra.

Para que seja capaz de fazer isso, é necessário que o artista possa compreender o que vê e traduzir, na sua obra, a visão e então poder compartilhá-la com outros.

A esse processo de olhar para o Absoluto e traduzi-lo em algo sintetizado, no que chamamos de Obra, que auxiliará outros aspectos do mesmo Absoluto a olhar para si mesmos e para o todo, podemos dar o nome de comunicação.

Existem vários formatos que a comunicação, vista dessa forma, pode assumir. Em cada formato, novas técnicas e formatos podem ser utilizados e desenvolvidos de foram a criar mecanismos que facilitem o contato entre o participante da Obra e Brahman.

Nessas miríades de relações e formatos que o ato de criar e transmitir a visão assume, pode-se perceber que ate mesmo o ato de comunicação é um ato de criação.

Nesta conversa informal que passaremos a ter, serão apresentados alguns dos inúmeros formatos e técnicas de criação literária, de forma que seja acessível a todos, e que servirá de treinamento de como se pode e deve flexibilizar uma idéia de forma que se faça contato entre os extremos sem que se perca o sentido original, concedendo abrangência à ela (idéia) para que cumpra o seu papel de unir, pelos laços da comunicação, aspectos diferenciados do Todo, que somos nós.


Estrutura Contextual


Todo texto precisa ter uma coerência lógica para que possa levar o sentido da mensagem ao seu destino, o leitor.

A essa coerência lógica, dá-se o nome de Estrutura Contextual Elementar, que é tão mínima e flexível que quase não se percebe, mas é de fundamental importância para que o texto funcione como um mensageiro de idéias.

Para se ter uma idéia de como essa estrutura é flexível podemos dizer que, todo texto precisa ter um começo, um meio e um fim para ser coerente. Porém, o que chamamos de começo, pode ser uma ambientação (a localização espaço/tempo/cultural que também serve de cenário para o texto) que muitas vezes nem aparece explícita no texto apresentado, sendo implícita no conteúdo ou na referência da obra como um todo, ou ainda sendo inferida durante o desenvolvimento da idéia.

O fim, por outro lado, pode estar apenas na mente do leitor e assumir diferentes formatos de acordo com a interpretação deste ou do seu momento psicológico. Nesses casos o texto tem que indicar o final, sem antecipá-lo.

Um texto pode, por exemplo, iniciar pelo “fim” mas este só será atingido realmente com a compreensão do leitor de tudo o que ocasionou aquele momento, sendo, portanto, a compreensão do leitor o verdadeiro “final” do mesmo.

Outra parte importante da Estrutura Contextual é o formato adotado. Para cada tipo de idéia ou finalidade desejada, é exigido um formato que pode ser mais ou menos rígido, com regras pré estabelecidas mais condicionantes ou mais flexíveis que direcionem.

Um post de Internet tem um formato necessariamente diferente de uma tese de doutorado ou de uma redação para um concurso de vaga para emprego.

Um conto é diferente de um romance, que é diferente de um diário, ou de uma reportagem, cada qual tem seu modelo próprio para que atenda ao seu objetivo e ao tipo de público que se destina. Respeitar esses formatos é uma das regras básicas para que haja uma boa estrutura contextual.

Dentro dessa questão de contextualização, também é importante ressaltar a harmonia da leitura. Como todos sabem, existe um “leitor” dentro de nossas cabeças que “fala” o que é lido como se estivesse contando a história para nossa memória. Quando esse leitor interno esbarra em algo que lhe desvie o fluxo de entendimento, gera uma perda de registro. Duas coisas podem provocar rapidamente essa distração.

Palavras não usuais para o tipo de público a ser atingido e, mais terrível ainda, Cacofonia.

A Cacofonia é um tipo de ruído produzido pela leitura de espécies de “Trava Línguas” que submetem o nosso leitor mental a um esforço maior de concentração, travando o desenvolvimento da leitura. É como um instrumento desafinado em uma sinfônica.

O efeito produzido se assemelha ao que se teria se pudéssemos deslizar as palavras pelos dentes de uma serra esbarrando nos picos dentados. Por exemplo:

“O que é que ela queria dizer com aquilo?”

A seqüência fonética dá a impressão de uma gagueira mental repetindo partículas de palavras que se sobrepõem a toda a frase, tirando a concentração do texto e focalizando-a em apenas uma parte, interrompendo o fluxo natural das idéias. Deve-se evitar isso substituindo-se os termos por outros equivalentes. Redundância das mesmas palavras durante seqüências mínimas de texto podem produzir o mesmo problema:

Ele sempre dava uma olhada pela janela

Ele sempre dava a si mesmo uma esperança

Ele sempre dava um olhar mais intenso nas madrugadas

Ele sempre dava a si uma desculpa para fazer aquilo.

Portanto temos, como regras elementares da Contextualização, o desenvolvimento dos eventos dentro de uma cronologia de raciocínio e interpretação, o formato previamente definido para o texto e publico a que se destina e a harmonia do fluxo de leitura.

Observando esses cuidados básicos o texto ficará mais direcionado e a comunicação entre o criador, a obra e o leitor se fará de forma mais prazerosa e perfeita.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Fora do Contexto , do meu e do dele.




" Já fazem dias que não durmo direito e nem sei porque,é como se eu quisesse ficar o tempo toda acordada para contar as horas passando e elas nem passam.. É estranho,mas não consigo pensar um motivo melhor. Sinto a carência palpitar em meu peito e é como se ela me chamasse para uma longa conversa regada a chá,queria manda-lá embora gentilmente,não quero tomar chá com a carência. Solidão é outra que vem batendo a minha porta como vendedora ambulante de produtos que eu não tenho interesse. Ela vem todos os dias,se arrastando,posso ouvir ela chegar,pois com ela sempre chegam suas amigas,as tais lágrimas e os suspiros,que gente chata,não me deixam em paz. Já falei,não tenho tempo para elas,não quero ter tempo para elas. Tem também a vontade , óh vontade , essa sempre que vem me derruba , as vezes ela é tão doce , mas as vezes tão amarga , me deixa com sede , com fome , me faz ansiar pela presença.. Presença? Essa não me visita faz tempo , até sinto saudade dela , já que a saudade está sempre presente. Me sinto fora do contexto , do meu , do dele e delas , da saudade , da presença , da solidão.. Só consigo olhar para as minhas mãos e desejar que outra mão a pegue. A atenção também parou de me visitar , faz dias que ela chega atrasada e se vai antes que eu possa abraça-lá. O amor , fiel amor , sempre presente , sempre pontual , mas tem vezes que ele me faz doer , só me faz doer , mas a consciência me diz que não é culpa dele , que ele é assim , tão rebelde , tão caloroso e ao mesmo tempo , tão forte.Me preocupo tanto em pensar por onde andam todos os sentimentos , que acabo pulando fora da vida , gumpt! Como se quisesse escapar de alguma coisa que eu não sei o que é.. e com essa fugida , eu acabo me deparando mais uma vez , fora do contexto , do meu e do dele .. do dele , porque passo tempo demais pensando o que fazer com as visitas inoportunas e acabo esquecendo,que para mandar elas embora , basta eu olhar nos olhos dele e sorrir. Porque afinal,o contexto do amor , é ele."
TExto de Diandra Elisa, membro da Comunidade TAverna Filosófica.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

RELATO DE UMA PACIENTE CARDÍACA NA U.T.I

São 6:00hrs da manhã, meu celular desperta e junto com ele meu coração começa a disparar.
Nem acredito que há 3 meses descobri que teria que fazer uma cirurgia no coração. Chegou o fatídico dia, me levanto sem fazer nenhum barulho, pois não quero acordar meus filhos e nem minha mãe. Não quero me despedir deles. Acordo meu marido e o aviso que estarei esperando na garagem, pois não posso nem tomar meu café da manhã por causa do jejum. Partimos juntos rumo ao hospital, pois tenho que estar lá as 7:00 hrs da manhã para a minha internação. No meio do caminho não consegui me conter e derramei as lágrimas que há muitos meses estavam contidas, ao olhar o meu marido ele também estava em prantos, era tudo que eu precisava!!!
Chegamos no hospital as 7 horas em ponto, logo fizeram minha internação e me mandaram para um apartamento aguardar enquanto não chegava a hora da cirurgia, que seria ao meio dia. Fomos para o quarto calados, ansiosos, e com medo, estava chegando o grande momento. Logo veio uma enfermeira se apresentar e dizer quais seriam os procedimentos antes da cirurgia. Não contei a ninguém que tenho pavor de agulhas, e também nada adiantaria. Começaram a chegar alguns familiares e amigos, precisavam estar neste momento com meu marido, ele estava pior do que eu, quase que fazem a cirurgia nele mesmo, tamanho era o desespero.
Um enfermeiro chegou e notei que com ele havia uma bandeja e também haviam agulhas, pronto, meu tormento havia começado, pois ele veio para colocar meu intracat, o primeiro de tantos outros que colocaram depois.
Começaram os procedimentos e logo me vi sem referencias, sem nome, sem meu lar e pior, sem minhas roupas. Pediria aqui em tom de piada que aumentassem o pano daquela camisola, juro que a minha cobriu apenas o necessário ou a necessária. Fui para a cama e lá fiquei até que o carcereiro visse me buscar. Meus amigos estavam comigo, todos sem palavras, apenas olhando como se eu definitivamente fosse para a cadeira elétrica. Bem, chegou meu condutor que iria me levar a masmorra, pediu que eu me deitasse na maca, não poderia mais nem colocar meus pés no chão, mas cadê a psicóloga para me ajudar com palavras de ânimo??? Cadê meu sossega leão para que eu pudesse já ir dormindo pro centro cirurgíco? Nada, fui aos trancos, de cara limpa e olhos tão arregalados que deviam estar medindo uns 5 cm de diâmetro naquele momento. Na despedida nem preciso citar, todos começaram a chorar e meu marido definitivamente acabou num choro compulsivo, quase internaram ele. Afinal, não sabíamos mesmo se eu voltaria, uma operação dessas nunca se sabe, né?
Fui para o centro cirúrgico sem meu psicólogo mesmo, não me mandaram ninguém, será que era porque eu sou psicóloga? Não vale, nessa hora vale o ditado que em casa de ferreiro o espeto é literalmente de pau!!!
Meu maior desejo era que meu médico, aquele que iria me operar estivesse ali comigo, já valia, nem precisava de psicólogos, poderia estar conversando comigo enquanto esperava me abrirem, poderia segurar minha mão e dizer que iria dar tudo certo, mas sei que esse tipo de coisa não acontece, uma porque ele só chega na hora que já estou aberta, outra que ele tem tantas cirurgias, que não era eu a que iria fazer ele perder seu tempo apertando minha mão.
Me colocaram na cama cirúrgica, neste momento entrava todo o maquinário e todos os profissionais de saúde que nem consegui contar. Logo veio meu primeiro furo, bem na mão e com uma agulha que mais parecia uma agulha de bordados da minha avó de tão grossa, doíaaaaaaaaaa, mas eles alegaram que era assim mesmo, eu que agüentasse. Além do fura fura na minha pessoa, ainda tive que ouvir eles conversarem como se eu não estivesse ali, e pior, não me davam nem a chance de participar da conversa, fiquei sozinha, me senti sozinha, tava vendo a hora em que eles iriam me abrir sem a anestesia, mas cadê o anestesista???? Me apaguem logo, pelo amor do Senhor meu Deus!!!!
Graças a Deus ele chegou e advinhem? Mais uma agulhada, mas essa pelo menos valeu a pena, mandaram contar até 10, creio que fui até o 2, não me lembro de mais nada, foi tudo tão rápido que quando acordei achei que não tivesse operado ainda.
A cirurgia durou cerca de 6 horas, acordei na u.t.i, toda entubada e com meu marido, meu irmão e mais um amigo me olhando como se eu fosse uma alienígena ou uma coisa horrível qualquer, mais até que eles conseguiram disfarçar bem, disseram que eu estava ótima, pode? Quem não tem o que falar, é melhor ficar quieto (hahahahaha).
Graças a deus não consigo me lembrar quando me desentubaram, acho que morreria ali mesmo, mas a visita durou apenas alguns minutos, logo foram embora e eu virei apenas um número, a paciente do leito 28!!!

Aos poucos fui percebendo que estava ligada em várias coisas como: cateter, drenos, sondas, eletrodos e sabe-se lá mais o que.
Minhas primeiras 24 hrs: Não nos deixam dormir, cada vez que eu tentava cochilar, vinha alguém correndo me sacudir e eu acordava parecendo que havia tido um pesadelo. Eles alegam que nas primeiras horas quando dormimos, podemos esquecer de respirar, alguém já ouviu falar sobre isso? È o fim mesmo!
Mas já que são ordens médicas, cabe a mim apenas obedecer e surtar logo de uma vez.
48 hrs: As luzes não se apagam, o tom de voz é o mesmo que ouvimos nas feiras livres, a correria é constante, do leito em que me encontrava podia ver alguns pacientes, uma visão terrível se assim posso dizer.
Ainda estou sem dormir, afinal eles resolvem fazer alguns exames no meio da madrugada, como por exemplo tirar um raio X em plena três horas da manhã, e pior, vinham tirar meu sangue as quatro da matina, e pior, o tal exame de sangue era a famosa gasometria, alguém já viu isso? O pior exame de sangue que já fiz na minha vida, exame de sangue do coração, tem que tirar o sangue da veia aorta, então eles ficam cutucando a gente até achar a famosa veia e com aquela agulha que citei da minha avó. Juro que nem o cateterismo me deixou tão assombrada!
A cada minuto eles vinham me aplicar alguma coisa e aí começou a minha irritação, fiquei muito irritada e isso foi piorando a cada dia, juro que não era TPM, eu para ajudar entrei naqueles famosos dias de mulheres, nem os enfermeiros tinham ouvido falar de alguma espécime que tivesse ficado naqueles dias em plena u.t.i, mas tinha que ser eu mesma, além de todos os cateteres, ainda ganhei um fraldão. Meu médico me disse que ficaria na u.t.i por 24 horas, mas tive algumas complicações e passei dos limites de tempos naquela u.t.i, já se iam mais de 48 horas e eu já estava surtando, espero ansiosamente um psicólogo ou um psiquiatra, afinal, quando fui pesquisar sobre os hospitais, ouvi dizer que tinham um desses para atender ao povo do pré e pós cirúrgico. Nada, ninguém para verificar a minha saúde mental. Deixa, não preciso mesmo, loucos são os outros, eu estava ótima como disse minha família.
Já estava caminhando para 72 horas, e eu ainda sem dormir, porque não existe quem durma naquela faixa de gaza. Nesse meio tempo eu já estava fora da realidade do mundo, não sabia se era dia ou noite, que horas eram e se estava chovendo ou fazendo sol, ouvi dizer que esse era o papel do psicólogo, nos posicionar todos os dias, para que não percamos nossas referencias do mundo, mas além disso, tinha que agüentar um enfermeiro homem trocando minhas fraldas, bem, na verdade, eu já não estava nem aí com mais nada, como diz minha sogra, estava entregue as baratas. Quem precisa de psicólogo quando já se é um? Mas péra aí, eu era a paciente, não vale!!!!
Comecei a surtar gente....meu estresse já era visível, porque minha tromba media pelo menos um metro, estava sem sair da cama, eles não deixam, nem adianta pedir, dizem que na u.t.i não existe chão, não podia nem virar de lado, pois na cirurgia serraram meu peito e meus ossos precisavam colar sozinhos, afinal não podia colocar gesso, nessa, minha coluna já foi pro espaço também.
Juro que tentei trabalhar minha mente dizendo frases como: Eu to ótima, eu logo sairei daqui, tudo isso que está acontecendo é normal, aqui é apenas um hospital, etc, etc e etc...Que nada....apelei então para Deus, só Ele poderia me salvar: Deus me salve, Deus me tire deste lugar, Deus faça passar todas essas dores, Deus, desapareça com essas pessoas, etc, etc e etc.... Também não adiantou!
Minha cabeça começava a soltar fumaça e minhas narinas também. Eu estava com muita falta de ar, e desde o 3º dia não saia mais do respirador, os outros pacientes agüentavam 10 minutos naquilo, eu passava o dia e a noite, fiquei viciada, já que não havia cigarro, nem drogas e nem bebidas, viciei no respirador mesmo. O coitado do fisioterapeuta, não agüentava mais me explicar que eu deveria largar aquilo e que eu estava bem, não precisava do oxigênio, mas quem era ele para saber? Eu sim, sabia do que precisava. No monitor marcava tudo normal, meus batimentos cardíacos, minha respiração, mas mesmo assim eu já não acreditava mais, aquilo poderia estar quebrado oras....para mim, eu estava mesmo era morrendo,, talvez a válvula não tivesse funcionado e quando eles mexeram, pioraram com ela e por isso não estava fazendo efeito, pelo contrário, tinha piorado a minha situação, eu estava enfartando ( na minha mente é claro).
Na u.t.i todos os pacientes ficam juntos, homens, mulheres, todos praticamente numa mesa redonda, um olhando para o outro para ver quem morria ou saía dali primeiro. Bem na minha frente no leito 30, uma senhora que tinha feito a mesma operação que eu, não estava reagindo, cada dia ela ficava pior, até tinham liberado as visitas fora do horário normal, algo não ia bem e eu assistia a tudo isso. Do meu lado um senhor com infecção no coração, os médicos decidiram fazer uma drenagem ali mesmo, na minha frente, eu se não quisesse ver que fechasse os olhos, bem, vi um pouco, quase desmaiei, mas o que era aquilo para quem já estava morrendo mesmo? Nada....Outros paciente estava surtando, uma senhora chamava pela mãe toda a hora, mas ela já tinha 80 anos, imagina a mãe dela, o outro pediu que a esposa fosse embora e vendesse tudo que era dele, afinal ele já estava vendo o pai e o irmão que já tinham morrido, jurava que eles vieram busca-lo, e ainda disse que a u.t.i era uma festa quando o visitantes iam embora os médicos dançavam a noite toda com as enfermeiras.
Todos piravam aos poucos e ninguém notava isso.....
Os enfermeiros e os médicos cuidam zelosamente dos pacientes, disso eu não tenho dúvida, mas pude notar que eles não estão preparados para cuidar do lado mental, emocional ou humanístico de cada paciente. Noto que médico não é amigo, mas apenas um médico.
Já no 4º dia eu mesma tive que me auto diagnosticar e auto medicar, já que não aparecia mesmo o tal do psicólogo ou um psiquiatra, nesta hora eu já não esperava mais o psicólogo, mas sim um psiquiatra para me enviar rapidamente a um manicômio. Devido a minha grande falta de ar e a taquicardia, (na minha mente), pois o monitor mostrava que eu estava bem, notei que estava com uma grave crise de pânico, poderia falar em síndrome do pânico, mas o que eu estava vivendo não era síndrome, mas sim um pânico REAL. Não possua mais nome, mais roupa, mais referencias e mais nada, estava totalmente indefesa nas mãos deles.
Chamei o médico e expliquei a minha situação, pedi um calmante e um antidepressivo, ele me olhou desconfiado, mas cedeu, acabei tomando um diasepan de muitas miligramas, mas estava tão ruim que dormi apenas duas horas. No dia seguinte ele me perguntou se eu queria outro, disse que sim, precisava apagar o incêndio, o foco eu tratava depois. Passou-se 2 dias nisso e eu comecei a melhorar, comecei a pensar novamente e saí do meu amigo respirador, até o fisioterapeuta me deu os parabéns.
Pelo menos os pacientes que eu quase vi morrendo, estavam se recuperando a cada dia, todos já estavam livres do tubo de oxigênio e de seus aparelhos, fiquei feliz, eu não era a única a ter alta logo, logo.
Eu não queria passar por tudo isso e morrer na praia, era demais, tanto sofrimento, tanto trabalho e ficar por ali, na u.t.i...
Fim de semana, cadê os médicos para me dar alta? Imagina, sumiram todos, só ficam o da u.t.i mesmo, mas eles não tem autorização para alta, só os nossos médicos mesmo, acabei passando do fim de semana na u.t.i de graça, mas segunda de manhã chegou a minha salvadora e me deu alta, saí dali na cadeira de rodas e de cabeça baixa,não queria ver mais ninguém. Fui para minha suíte no 701.
A primeira coisa que fiz, foi tirar aquela camisola horrível, tomar um banho em pé e de corpo inteiro e colocar meu pijama.
Passei o restante do dia sentada, nem acreditava que estava sem drenos, sondas e demais. Chegaram pessoas para me visitar, mas eu não estava muito boa nem para ficar conversando, ainda estava chocada.
Quando veio a noite, pensei, puxa, hoje vou dormir. Que nada, tive horríveis pesadelos e muitos, nem conseguia fechar os olhos e já imaginava aquele povo todo da u.t.i encima de mim me agarrando. Para ajudar o enfermeiro vinha me dar remédios às 2 horas da madrugada, não, não agüentava mais isso, cada vez que eles batiam na porta, eu pulava. Acho que já estavam testando meu coração!!!
Pior vocês nem sabe, lá pela madruga veio uma enfermeira me acordar apenas para se apresentar e dizer que ela era responsável por mim e que qualquer coisa que eu precisasse era para chamá-la. Mas quem disse que eu precisava dela ou saber o nome dela???? Na madrugada??? Isso é normal??? Ou era eu que ainda estava com resquícios de loucura???
Meu marido foi obrigado a pedir gentilmente que eles não viessem mais na madrugada, ou se fosse necessário, poderiam entrar sem bater e me dar o remédio sem me acordar, afinal aquele intracat servia para que meu Deus?
Bem, entre dias e noites se passaram mais uns 6, nestes dias meu medico vinha me visitar todos os dias pela manhã, mas nada de alta, eu implorava todos os dias, mas nada, eles têm pavor de liberar um cardíaco, só pode ser isso, nos tratam igual a um bebê.
Mas eu sei o porquê que ele não me dava alta, disse que eu tinha que virar corintiana, pois todos da equipe eram, mas venho de uma família palmeirense, e agora, o que faço? Estava entre a cruz e o punhal, mas para falar a verdade, comecei a me sentir coagida e pender para o lado do médico, afinal, era ele que iria me dar a carta de alforria, não custava torcer pelo time dele.
Numa dessas manhãs perguntei a ele qual era a possibilidade de uma alta, se eu começasse a torcer para o corintias, ele olhou bem , deu uma baita gargalhada e disse para o meu marido que já tinha me ganhado e que eu era uma palmeirense fajuta! Kkkkkkkkkkk
No 12º dia, chorei e ganhei uma alta, juro que não levei nem 10 minutos para arrumar tudo, saí correndo, nem olhei para trás, estava passada, assustada.
Mas porque resolvi escrever esse relato?
Decidi escrever por 3 motivos principais:
1º Era viável que fizesse disso tudo uma crônica, pois falar deste assunto tão seriamente, creio que ainda abalaria minhas emoções.
2º Para conscientizar os hospitais sobre a importância do profissional da saúde mental junto ao corpo médico. Infelizmente com essa experiência, pude notar a falta de preparo dos mesmos. A saúde mental do paciente em u.t.i é um fator importante a ser tratado, primeiro porque os médicos teriam muito menos problemas e segundo porque anteciparia a saída do paciente da u.t.i, evitando assim mais gastos ao hospital sem a real necessidade. Alguns hospitais que avaliei antes da minha internação, já possuem esse tipo de trabalho, baixando seus custos de internação em até 40%. Pensem nisso.
3º Não poderia deixar de fazer aqui os meus agradecimentos. Primeiro á Deus que foi quem me deu força para agüentar toda essa jornada, depois ao Alessandro, um rapaz sensível que nos ajudou e muito durante o processo meu no hospital, moveu céus e terra para que eu ficasse na melhor suíte e fosse muito bem atendida. Posso dizer que seu trabalho foi feito com excelência, e se no hospital existe algum prêmio do melhor do ano, com certeza eu o daria para ele que trabalha no relacionamento com o cliente.

E Por ultimo e mais importante, os enfermeiros, aos médicos que estiveram envolvidos nesta cirurgia, a equipe da cirurgia, aos médicos que me avaliaram antes e depois da cirurgia: Dr.Vitor que me deu duas opções: operar ou operar, Dr.Paulo que quase conseguiu me fazer virar Corintiana e Dra. Rosa Simões que me deu meu maior presente: minha alta... e o principal deles, aquele que teve o maior cuidado em colocar suas divinas mãos em meu coração, aquele que hoje possui um cantinho especial no meu novo coraçãozinho e sei que deixou parte de sua vida para trás, apenas para se dedicar em salvar pessoas: Professor Noedir A.G.Stolf.



Adriana Silveira Simões Pereira-38 anos
Cirurgia Cardíaca para troca de válvula

domingo, 21 de setembro de 2008

O PROIBIDO É PRÓ-LIBIDO - TON DIAS (HALSTON)

Me diga o que eu não posso
Será o que eu irei querer
Aponte como não possível
Que desejo obter...
Eu estou no anonimato...
Não sou ninguém, mas sou qualquer um
Aponte como não possível, que desejo obter...

*-*-*-*-

Diga não... e eu fixarei o olhar...
Não vou cessar nem ceder...
Nem esquecer
Só trabalhar... trabalhar pra obter...

*-*-*-*-

Se é proibido é pro-libido
O proibido é pro-libido
Se é pro-libido é proibido
O proibido... é pro-

Eu não quero o que está ao alcance de tudo e todos
Não tem graça sem negar...
Se é proibido, é bem mais gostoso...
Eu estou no anonimato...
Não sou ninguém, mas sou qualquer um
Aponte como não possível, que desejo obter...

Se é proibido é pro-libido
O proibido é pro-libido
Se é pro-libido é proibido
O proibido.. é pro-libido...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ladrão de carro encontra criança dormindo no banco traseiro

Bandido avisou a polícia sobre o local onde deixaria o automóvel


Depois de furtar um carro nesta madrugada em Passo Fundo, no norte do Estado, um ladrão percebeu que uma criança dormia no banco traseiro e ligou para a Brigada Militar informando onde abandonaria o carro. O automóvel foi encontrado com o menino de cinco anos ainda dormindo. A mãe e seu companheiro estavam em um bar. O caso foi registrado na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) da cidade e será investigado pela 2ª DP.

Por volta das 2h, o bandido levou um Monza azul ano 1983 que estava estacionado próximo do número 897 da Avenida Brasil, no centro de Passo Fundo. Minutos depois, percebeu a criança dormindo no banco de trás. Ligou para o 190 e informou que deixaria o carro na Rua 7 de Agosto, 488, no bairro Operário. Segundo o oficial do 3º Regimento de Polícia Montada que atendeu a ocorrência, o ladrão teria reclamado da irresponsabilidade do casal.

Quando a Brigada Militar encontrou o Monza, o garoto ainda estava dormindo. Como o carro estava com documentos vencidos, acabou sendo guinchado. A criança foi levada para a DPPA, junto com a mãe e seu companheiro, encontrados em um bar no Centro. O plantão do Conselho Tutelar da Microrregião 2 foi acionado.

Na delegacia, foi registrada ocorrência de furto. Conforme o plantonista da DPPA, o menino foi embora com a mãe, mas ela deveria se apresentar às 10h no Conselho. Contatada pela reportagem às 7h, a plantonista do Conselho preferiu não falar sobre o caso. Disse que seria tratado pela coordenação ao longo do dia.

O ladrão não foi encontrado. O caso foi encaminhado para a 2ª DP de Passo Fundo.


Fonte: ZEROHORA.COM

terça-feira, 16 de setembro de 2008

MEU AVATAR - MARCCO



VENCEDOR DO TERCEIRO CONCURSO LITERARIO DA TAVERNA

Cara de menino, marra de bandido
olhar de bravo ou de pavor
riso, estardalhaço, boca de escárnio
quadro tela ou televisor

*
Pose de princesa, corpo de sereia
tanto faz, eu quero é brincar
bicho ave ou peixe, qualquer coisa serve
posso tudo em meu avatar
*
Triste posto chuva, magoado a cor é turva
rindo taco um céu azul
alegre eu dou risada, do contrário fecho a cara
me imagino surucucu
*
Posso tudo e nada me tira a vantagem
de ser o que quero mostrar
ninguém me conhece, sou só mais um na net
posto tudo em meu avatar
*
Samurai, rainha, paisagem, bailarina
imagens que revelam ou não
qual será o segredo da escolha de um desenho
vem da mente ou do coração
*
Sou maior que mostro, quem vai me desvendar
arrisque olhar e me decifrar
olhe e veja a história que eu sempre mostro
lá...vai...estar... no meu a...va...tar...

PENSAMENTO - FÉLIX MARANGANHA

O objeto que estava em movimento
é o objeto que está’gora em repouso,
como um barco, de seu deslocamento,
logo pára ao chegar em novo porto.

Trabalhando em total desassossego,
eu descanso na paz desse trajeto,
mas é hirto que fico em meu sossego,
quando mexo-me calmo e inquieto.

Mas meu sono me traz um pesadelo
desse trânsito morto em estagnação...
Verifiquem a pausa nesses versos!

Toda velocidade dessa calma
me traduz, na total inquietação,
poesia que mexe-me na alma.