segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Meus 44 anos





Preciso correr. Correr contra o tempo, correr, correr, correr. Não descobri ainda porque o céu é azul, e não de outra cor. Tampouco porque pássaros voam, golfinhos nadam, jubartes cantam, e o vento por entre as folhas de uma árvore também. Não descobri porque crianças levam 1 ano para andarem, e outros animais alguns minutos, nem porque uma lágrima de criança comova tanto, assim como o olhar de um pobre velho doente. Preciso correr, mais depressa que os amigos, para esperá-los logo mais ali na frente, correr para dobrar as curvas do meu caminho com tempo e calma, não correndo o risco de dobrar esquinas erradas. Correr... correr... Correr para tentar voltar a sentir o perfume de coisas que o cigarro não me permite mais sentir, correr para entender pq adultos estancam diante do problemas, enquanto as crianças caem, caem, mas estão sempre seguindo adiante em busca do que querem, independente dos obstáculos. Ainda preciso descobrir pq crescemos tanto, e ao invés da vida se tornar mais fácil, se torna mais dura, porque trabalhamos tanto, e quando estamos velhos e vamos descansar, não temos força, nem ânimo, nem saúde para fazermos tudo que sonhamos anteriormente. Quero descobrir porque algumas flores são amarelas, outras brancas, outras violetas, outras margaridas. E porque algumas são rosas, mas de tantas cores são que nem sei ainda dizer quantas são, mas pra isso vou correr. Para descobrir. Porque hoje, eu senti uma coisa com muita força: que preciso correr. Correr se quiser ver tanta coisa que ainda quero ver, porque meu tempo... bom, é melhor correr... há tanta coisa ainda a fazer, ver, descobrir... nem sei se compensa... estou cansado. Pela primeira vez em minha vida, eu me sinto assim: cansado...




Marcco Blue

domingo, 2 de novembro de 2008

MANCHETES

OS ASSUNTOS MAIS BACANAS,OU MAIS POLÊMICOS,
OU MAIS DEBATIDOS NA TAVERNA
AUTOR -Lilian

Lições de vida
Era um sábado à noite, uma noite gelada de Agosto. Estou contando isso porque não consegui esquecer (e porque já bebi um cadinho e estou de pileque). rs

Talvez não esqueça nunca. Esperava a namorada em frente a uma barraquinha de pipocas; em frente ao Lumière; enquanto aguardava sua volta com os ingressos para o filme, o velhinho apareceu. Sujo e amarrotado.


Mendigos se parecem em todos os lugares do mundo, pensei. Mas este era diferente; não pediu nada a ninguém; uma madame comprou pipoca, um casal também. O velhinho mendigo continuou ali, paciente, sentado em frente a um enorme banco, império das riquezas e dos gerentes sem alma. Mas era sábado à noite, de modo que ninguém o expulsou.

Então eu tremia de frio, apesar do casaco grosso; e ele ali, o velhinho, me olhou. Retribuí. Então ele sorriu, e tinha os olhos mais doces do mundo. Tirou das suas coisas uma sacolinha branca de supermercado, amarrotada e suja. E falou com o pipoqueiro que, gentil, encheu a sacola do velho mendigo com pipocas. As mesmas que iam alimentar a madame, o casal de namorados e, logo em seguida, também eu.

Engoli em seco. O velhinho mantinha a sanidade e uma certa dignidade por trás do cobertor sujo. Novamente, me olhou e sorriu. E me disse: boa noite! Sorriu novamente, encantado pela minha resposta ao cumprimento. Depois, sentou na frente do banco, enrolou-se e começou a comer as pipocas, entre feliz e envergonhado.

Eu engoli em seco, novamente. Pensando na virtude do meu belo casaco, no abraço quente da minha namorada, na cama quentinha que me esperava. Triste. O céu tinha estrelas, as mesmas que eu e o pobre senhor enxergava, também. A luz fraca da noite era nossa. Tão minha quanto dele quanto da madame, quanto do casal de namorados, quanto do pipoqueiro generoso. Mas não tive vontade de me olhar no espelho, depois. Podia ser qualquer um de nós ali.

E a noite continuou fria e escura, e mais triste. Mesmo.

Alguma história que tenha te sacudido assim?